sexta-feira, 9 de junho de 2017

'A médica omitiu socorro', diz motorista da ambulância enviada para socorrer bebê

O motorista Robson Oliveira

O motorista da ambulância acionada para prestar socorro ao menino Breno Rodrigues Duarte da Silva, de um 1 e 7 meses, desabafou sobre a decisão da médica Haydee Marques da Silva, de 59 anos, que não prestou atendimento à criança. Robson Oliveira, de 50 anos, trabalha como socorrista desde 2013. Ele está inconsolável desde que recebeu a notícia sobre a morte de Breno, na quarta-feira, 1h30 depois de a ambulância ir embora do condomínio da famíla, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, sem ajudar o bebê.
— Eu gosto de socorrer. Gosto de salvar vidas. O que ela fez não existe. Ela omitiu socorro. Não importa a idade. Se tem um, dois, mil anos. É uma vida e a gente tem que socorrer. A empresa, eu e a técnica fizemos tudo que podíamos ter feito. Tentamos convencê-la. É de uma tristeza sem fim — disse o motorista, que está na 16ª DP (Barra da Tijuca), para prestar depoimento sobre o caso (a médica também é aguardada para uma oitiva nesta sexta).
Segundo Robson, que falou ao EXTRA com exclusividade, Haydee havia acabado de iniciar o plantão. A equipe seguia para uma ocorrência na Penha, na Zona Norte do Rio. No entanto, quando passavam pelo Recreio dos Bandeirantes, receberam um "código vermelho".
Breno sofria de uma doença neurológica rara, a síndrome de Ohtahara, que provoca consulsões severas. Na quarta-feira, ele apresentou um quadro infecicioso, e a família chamou uma ambulância da Cuidar Emergências Médicas, através do plano de saúde Unimed-Rio. O veículo chegou ao prédio pouco depois de 9h, mas a médica decidiu não socorrer o paciente e foi embora. Segundo a diretoria da Cuidar, ela decidiu não prestar atendimento quando soube que o paciente era uma criança, alegando que não é pediatra, mas, sim, anestesista.
— Como trabalhamos com a UTI Móvel, trabalhamos com agilidade. Fui o mais rápido que pude. Quando chegamos lá, pedi para o porteiro anunciar a chegada da ambulância. Enquanto ele foi fazer o contato, a doutora pediu à tecnica de enfermagem as informações sobre o paciente. Quando ela falou o nome, a médica logo pediu a idade. Ela disse "tem um ano". Depois disso, a médica começou a gritar, fez um escândalo e disse que era para irmos embora. Ela rasgou a guia de internação e ficou histérica — contou.
Robson disse ainda que ele e a colega tentaram acalmar a médica e convencê-la a fazer o atendimento. Mas foi em vão.
— Tentamos convencer, falar que a criança precisava. A técnica ainda falou "doutora, vai ser rápido. Fazemos o atendimento, levamos ele e vai ser bem rápido". Mas ela não parava de gritar. Começou a discutir comigo e se recusou a atender. Eu acionei a base e avisei que a médica não queria atender o paciente. Eles perguntaram o que tinha acontecido e me pediram para aguardar o retorno — contou.
De acordo com o motorista, após a resposta da empresa, a profissional pediu que fossem embora. Ele, então, fez o retorno para deixar o condomínio.
— Ela estava muito nervosa e gritava muito. Dentro da ambulância, o médico é a autoridade. Saímos segundo as ordens dela e íamos aguardar o retorno da base do lado de fora. Ela desceu da ambulância e foi embora. Eu e a técnica avisamos a empresa e aguardamos a ordem de retornar para a base. A empresa me ligou e me pediu para que voltassemos porque outra ambulância estava a caminho. Ela se omitiu. A empresa mandou a ambulância e ela se omitiu — disse.
Breno tinha um ano e seis meses e sofria de epilepsia
Breno tinha um ano e seis meses e sofria de epilepsia Foto: Arquivo pessoal
Robson somente soube da morte de Breno quando chegou à sede da empresa.
— Quando cheguei, todo mundo já sabia. Foi quando me contaram que o paciente que eu ia atender tinha vindo a óbito. Isso acabou comigo — lamentou.
A médica foi demitida da companhia Cuidar Emergências Médicas, que prestava serviços para a Unimed-Rio. Segundo a empresa, a profissional atuava há cerca de quatro anos como prestadora de serviços e nunca havia recebido qualquer queixa sobre sua conduta.
"É uma médica que atua como prestadora de serviços em nossa empresa, há cerca de 2 anos, sem que, até a presente data, apresentasse qualquer tipo de problemas na ordem técnica e comportamental. É uma profissional treinada e habilitada para atendimentos emergenciais, com formação em anestesia. Esclarecemos que no momento não estamos divulgamos nome e CRM da médica por orientação do Cremerj. Estamos apurando o ocorrido, ressaltando que a colaboradora foi afastada de suas funções de modo definitivo. Outrossim, reiteramos o nosso repudio a atitude apresentada pela profissional", diz nota da Cuidar Emergências Médicas.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro abriu uma sindicância para apurar o caso. A Unimed-Rio lamentou o ocorrido e descredenciou a empresa.
"A Unimed-Rio lamenta profundamente o falecimento do pequeno Breno Rodrigues Duarte da Silva na manhã desta quarta-feira, 7/6 e vem prestando apoio irrestrito à família nesse momento tão difícil. A cooperativa tomará todas as providências para descredenciar imediatamente o prestador 'Cuidar', pela postura inadmissível no atendimento prestado à criança. Além disso, adotará todas as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis em razão da recusa de atendimento por parte do prestador de serviço".

'A punição dela não cabe a mim julgar', diz pai de bebê

Pai do bebê Breno Rodrigues Duarte da Silva, Felipe Duarte desabafou nesta quinta-feira sobre a morte de seu filho, de 1 ano e 7 meses. Ele lamentou e fez um apelo à funcionária da Cuidar Emergências Médicas, que presta serviço ao plano de saúde Unimed.
Familiares e amigos de Felipe e Rhuana apoiaram casal
Familiares e amigos de Felipe e Rhuana apoiaram casal Foto: Carolina Heringer/EXTRA
— Não tenho raiva. Só desejo que ela jamais faça isso de novo. Como ela vai pagar, qual punição vai ter, não cabe a mim julgar. Cabe à lei o caminho que ela vai seguir. Meu filho era especial. Pais de filhos especiais já sofrem querendo dar o melhor para as crianças, e vem uma pessoa assim e não cuida, justamente quando mais precisa. Meu filho precisava de cuidado. Se ela não tivesse se omitido, ele poderia estar vivo agora — disse, com a voz embargada.
O corpo de Breno foi enterrado na tarde desta quinta-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Norte do Rio. Emocionados, os pais da criança usavam camisa com a frase: "Para sempre nosso campeão".

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